Vivian Pinto Portela da Silva.

Vivian Pinto Portela da Silva.
Vivian Silva, diploma e fotografias, uma proferindo palestra em Congresso Internacional (Xalapa, México, 2011); em 2007; com o neto John Portela Grooms (novembro, 2013). Abaixo: Jornal da Tarde, (dezembro, 1966). Fotos com a família Wallace, proferindo palestra em High-School e como Jovem Embaixadora na, Universidade de Stanford (California, 1967).

domingo, 13 de novembro de 2011

J. N., MANUEL; Manuel de Jesús Neto (1957-).

O artista brasileiro nasceu em Arajara, perto de Crato (Ceará): ele veio viver em São Paulo (1967). Autodidata de raro talento, Jesus Neto se destacou na Cultura da Fibra, na criação de Instalações criativas, baseadas na natureza das técnicas dessa  arte.  JN foi aluno que o artista uruguaio Ernesto Aroztegui adotou, depois de encontrá-lo na Praça da República, onde o artista vendia artesanato têxtil.

O ilustre professor uruguaio visitou São Paulo inúmeras vezes, quando proferiu seu curso de técnicas têxteis para alunos paulistas, tais como Henrique Schucmann e Marina Overmeer. Durante o período de 2 anos, Aroztegui proferiu Workshops mensais nos finais de semana, no curso que ensinou as técnicas têxteis, ditas, de Gobelin, aos artistas paulistas, através da clássica Amostra de Aroztegui.

Aroztegui, cujas obras participaram da Bienal de Veneza, foi mestre inconteste da arte contemporânea uruguaia e bastante influente nos rumos da Cultura da Fibra brasileira.     As pesquisas de JN sobre a Arte da Fibra, levaram-no a descobrir que, para ele, a teoria da mesma girava em torno de Pressão, Envolvimento e Torção: a partir destas três premissas, o artista desenvolveu diversas fases das criativas técnicas têxteis que permearam sua obra. A primeira fase foi a que Jesus Neto chamou de Acomodado, na qual ele utilizou pressão colocando juntos diversos materiais, refugos da indústria têxtil como estopa colorida, e retalhos de tecidos, prensadas no meio de duas camadas de fios, que seguravam o material com pressão. Este tipo de técnica JN expôs na sua grande Instalação, na mostra do Mês da Arte Têxtil, organizada em conjunto pelo CPT/ Centro Paulista de Tapeçaria, no SESC – Pompéia (São Paulo, 1989). Poderíamos descrever esta técnica que o artista batizou de Acomodado, como Acumulação Não Tecida de Material Têxtil, flexível, prensado entre camadas de fios não ordenados de maneira sequüencial. JN foi o único artista brasileiro que utilizou essa técnica original.
   
No desenvolvimento da segunda fase de sua pesquisa, JN alcançou a fase do dito, Envolvimento: em cima de placa de plástico transparente derretido e ainda muito quente, o artista dissolveu embalagens comerciais de plástico, com rótulos impressos com tinta colorida que, ao derreterem, passavam sua cor para o material transparente da base. A matéria plástica na placa quente logo adquiria consistência de gel líquido, com o aquecimento possibilitava derreter grande variedade de materiais e objetos, refugos que JN acrescentava. Quando o material endurecia, o artista produzia a série de fios de fibra, que tecia com técnicas criativas, nessa segunda fase de suas obras da Arte da Fibra.
    
Na terceira e última fase da técnica que desenvolveu e adotou, JN resgatou suas memórias da infância de menino pobre, que vivia ao lado de engenho de cana de açúcar existente até hoje no Ceará. O artista declarou sentir falta dos brinquedos, que nunca dispôs na infância, sendo que sua principal distração diária no seu único momento de lazer, quando se dirigia ao engenho para buscar o alfinin, o melado mais fino da cana de açúcar produzido na sétima caldeira, que depois de esfriar um pouco atingia o ponto de caramelo. Os funcionários estendiam com rodos o melado para esfriar, antes de colocarem-no nas formas de rapadura. Para resgatar essa fase da sua infância, JN derreteu plástico de refugos industriais, que reciclou em pequenas quantidades (200 grs. por vez), dissolvendo na chapa quente com auxílio de espátula, a fim de criar a massa pastosa que lembrava a consistência do melado de sua infância: com esse material, de grande plasticidade e beleza, o artista criou obras aceitas no XXII Salão de Arte Contemporânea de Santo André (1994).           

As obras da Cultura da Fibra de JN participaram de inúmeras mostras coletivas, como do XIV Salão de Artes Plásticas do Embu (São Paulo, 1980); do I Salão Nacional de Artes Plásticas Alberto Santos Dumont, realizado no Museu da Aeronáutica, onde sua obra em técnica de fibra recebeu Medalha de Prata (São Paulo, 1982), da III Trienal de Tapeçaria,no MAM (São Paulo, 1982); no Salão Paulista de Arte Contemporânea de Araras (SP, 1984); de várias mostras realizadas no Museu da Imagem e do Som e no Paço das Artes; da exposição Tendências, no MASP (São Paulo, 1985); no Chapel Art Show, na Galeria Chapel (São Paulo, 1985); no importante Evento Têxtil/ 85, realizado no MARGS (Porto Alegre, RS, 1985), itinerante por vários museus e instituições culturais brasileiras (1985-1986).
   
JN expôs no Museu de Arte Contemporânea (Curitiba, PR, 1994); e na mostra internacional Uma Visão sobre a Arte Têxtil Brasileira Hoje (1995-1996), realizada no Museu da Torre Redonda (Copenhagen, Dinamarca, set.- out., 1995),  itinerante ao Museu Nacional do Traje (Lisboa, nov., 1995- maio, 1996), ao MARGS (Porto Alegre, junho-julho, 1996) e ao Museu de Arte de Santa Catarina (Florianópolis, julho-agosto, 1996).
    
JN se destacou no movimento da Cultura da Fibra nacional como artista espontâneo: suas obras resgataram universo de elaboradas técnicas têxteis, com a releitura extremamente contemporânea, moderna, sem nunca perder de vista suas raízes brasileiras. Na Instalação que o artista apresentou no Evento Têxtil/ 85, ele resgatou na técnica pessoal as garrafas de areia cearenses, com desenhos originais e populares normalmente criados com areias coloridas. JN resgatou-as criando os desenhos com refugos de estopa colorida, elaborados com a mesma espontaneidade do jogo do acaso, pois do modo como as fibras caíam dentro da garrafa ficavam, acomodadas em várias camadas, compactas, no interior das garrafas. O artista montou com as suas garrafas sua instalação, inserida no contexto das vanguardas da época, simples e bem brasileira. A obra, uma das mais originais da mostra, encontra-se com sua fotografia reproduzida no catálogo da exposição (MARGS, 1985).
    
Ainda na técnica pessoal, JN criou a obra Agreste (fibras de lã, papel, 43 x 67 cm, 1995), que expôs na mostra internacional inaugurada em Copenhagen e itinerante a museus internacionais e nacionais (1995-1996), e que se encontra com sua fotografia reproduzida no catálogo do evento. Na sua obra pessoal com a utilização de refugos industriais, JN se inseriu na corrente contemporânea do movimento das vanguardas internacionais, no qual se destaca a obra de Robert Rauschenberg, precursor na utilização de materiais encontrados, refugos de uma sociedade industrial, obras reconhecidas como valiosas no contexto da arte contemporânea.

REFERÊNCIAS:

CATÁLOGO de exposição. Evento Têxtil 85. Porto Alegre: MARGS, 1985.

CATÁLOGO de exposição. Uma visão sobre a arte têxtil brasileira hoje. Copenhagen:
Museu Rundertarn. Lisboa: Museu Nacional do Traje. Porto Alegre: MARGS. Florianópolis: Museu de Arte de Santa Catarina, 1995-1996.

DEPOIMENTO pessoal do artista, por telefone, 13 de agosto, 2003.

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