Vivian Pinto Portela da Silva.

Vivian Pinto Portela da Silva.
Vivian Silva, diploma e fotografias, uma proferindo palestra em Congresso Internacional (Xalapa, México, 2011); em 2007; com o neto John Portela Grooms (novembro, 2013). Abaixo: Jornal da Tarde, (dezembro, 1966). Fotos com a família Wallace, proferindo palestra em High-School e como Jovem Embaixadora na, Universidade de Stanford (California, 1967).

sábado, 25 de outubro de 2014

Liberdade, democracia e voto.

Liberdade, democracia e voto. Quando entrei na Faculdade de Arquitetura, prestei concurso para a FAU e o Mackenzie. Não passei para a FAU, e fui excedente, isto é, aprovada no Mackenzie, mas sem direito à vaga. Liderei o movimento dos excedentes: entramos todos, em 1963. No mesmo ano entrei para a UNE e fui a única representante da Universidade Presbiteriana Mackenzie no Congresso Nacional de Arquitetura, em Salvador. Tornei-me Diretora Cultural do Grêmio DAFAM. No ano seguinte, começou a ditadura e a reunião de três estudantes conversando no pátio era considerada subversiva. A diretora da Universidade, que assinou o meu diploma, Esther de Figueiredo Ferraz, tornou-se simpatizante ou mais que isto, da ditadura. O Grêmio foi fechado. Todos os universitários foram perseguidos: isolei-me na biblioteca da FAU, que ficava em frente, e os livros tornaram-se meu oásis de deleite. Ainda meu grupo, o do final da chamada, foi manifestar-se na Praça da Sé: comparecemos eu, a Vera, a Viviane, o Roberto, o Waltinho Dantas e o outro Walter. Ficamos muito assustados com os tiros disparados pela polícia, armada e à cavalo. Foi nossa única e última tentativa de manifestação. A repressão matava, não era brincadeira. Fui sondada para aliar-me a um grupo político de esquerda: não quis. Naquele tempo, no segundo gráu, havia o dito, Clássico e o Científico. Para cursar Arquitetura deveria ter cursado o Cientifico, que enfatizava a Matemática e a Física. Cursei o Clássico, com ênfase no Latim, Francês, Português, Desenho e Música. Até hoje nem sei como sobreviví às equações matemáticas: tive que estudar muito para superar Cálculo, Concreto I e II, e levei bomba em Concreto Protendido. Foram férias lamentáveis, fiz outra prova e passei. Foram oferecidas bolsas de viagem aos Estados Unidos: na primeira que concorrí, eram 30 vagas, fiquei no 32o lugar. Foi bem frustante, pois meu namorado passou. Na próxima, bem mais difícil, pois eram mais de 500 candidados para duas vagas, passei. Fui Jovem Embaixadora do Brasil nos Estados Unidos. Todos os países do cone sul das Américas enviaram dois jovens: nos encontramos todos em Miami e viajamos juntos, encontrando líderes políticos, visitando organizações de combate à pobreza até as Nações Unidas e OEA, em Nova York. Depois cada Jovem Embaixador seguiu para um estado diferente: fui sorteada com o melhor de todos, ganhei a Califórnia. A organizadora chegou com um calhamaço de passagens e cruzei de onibus Greyhound 18 estados americanos. Foi uma viagem espetacular. Me lembro até hoje de ter acordado um dia em Laramie: a cidade era tema de um dos primeiros seriados de televisão, aquela branco e preta da tela pequena cheia de chuvisco. Bem, voltei, retomei os estudos formei-me, mas até hoje acho que deveria ter cursado jornalismo. Quando votei pela primeira vez fui eleitora do Jânio Quadros. Nem entendí quando ele renunciou. Depois foram décadas sem votar, sem escolher. Calaram o Brasil. Não calaram os inteletuais e artistas: mesmo com a censura, davam sempre um jeito de aparecer. De volta ao Rio de Janeiro, no grande sucesso do espetáculo Opinião, cantavam: podem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião… Pois o maior anseio do ser humano é a liberdade. Liberdade de opinião. Certamente a minha é diferente da sua, por sua vêz diferente da de muitos outros. Cada um tem a sua opinião. Vai para a rua manifestar-se. Hoje pode. A imprensa também é livre, diz o que quer, quando quer, como quer. Que maravilha essa liberdade de ser e de opinar. Celebro a democracia, a liberdade, as eleições livres, a minha e a sua opinião. Mesmo que sejam diferentes. No Rio de Janeiro de antigamente, recordei os votos de protesto, que elegeram dois animais do Zoológico: o macaco Tião e o rinoceronte Cacareco. Bem, prefiro o voto que escolhe candidatos humanos. Mesmo que não sejam inteiramente de seu agrado, pois afinal ninguém é perfeito, nem se encaixa totalmente na minha ou na sua opinião. Temos Democracia. Temos muito, muito o que celebrar. Celebre sua liberdade, celebre sua escolha, mostre sua opinião. Vote. Viva a liberdade de opinião! Vivian

sexta-feira, 20 de junho de 2014

BIOGRAFIA: GENARO; Genaro de Carvalho (1926-1971).


BIOGRAFIA: GENARO; Genaro de Carvalho (1926-1971).
 

Genaro nasceu e faleceu em Salvador (Bahia); ele foi desenhista, pintor e tapeceiro. O artista estudou Desenho, na Sociedade Brasileira de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1944) e realizou sua primeira mostra individual na ABI/ Associação Brasileira de Imprensa (Rio de Janeiro, 1945).

Quando Genaro voltou a viver em Salvador, ele se associou aos artistas das vanguardas que buscavam a renovação das artes baianas, tais como Jenner Augusto, Mário Cravo Júnior e Carlos Bastos, entre outros: ele expôs suas obras na mostra coletiva realizada na Biblioteca Pública (Salvador, 1947). Genaro viajou por conta própria para a Europa e tornou-se aluno de André Lhote, quando frequentou a Escola Nacional Superior de Belas Artes (Paris, 1949). Na capital francesa os desenhos e as pinturas de Genaro participaram de vários eventos como o Salão de Maio, o Salão dos Artistas Independentes e o Salão de Outono (Paris, 1950).

De volta ao Brasil, Genaro expôs suas obras em várias mostras individuais: na Galeria Oxumaré (Salvador, 1953); no MAM (Rio de Janeiro e São Paulo, 1957); na Galeria Astréia (São Paulo, 1966); na Petite Galerie, de Franco Terranova (Rio de Janeiro, 1955; 1961; 1962; 1965; 1967). Genaro expôs suas obras em mostras internacionais, na I e II Bienal Internacional do MAM (São Paulo, 1951; 1953); na BIT/ Bienal Internacional de Tapeçaria (Lausanne, Suíça, 1965). Genaro foi homenageado com Sala Especial e recebeu o Prêmio de Aquisição, na I Bienal Nacional de Artes Plásticas (Salvador,1966): ele foi novamente homenageado com Sala Especial na I Mostra Brasileira de Tapeçaria no MAB/ Museu de Arte Brasileira da FAAP (São Paulo, 1974).

Nas décadas de 1950-1970 as tapeçarias de Genaro ficaram bem conhecidas: o artista se inspirou nas obras do suíço Jean Lurçat, mas modernizou e tornou bem brasileiro o seu desenho, que recebeu certa influência de Joan Miró. As tapeçarias de Genaro, de acordo com a tradição do norte e nordeste do Brasil e principalmente devido a grande habilidade manual, aliada ao grande número de bordadeiras existentes nestas regiões brasileiras, caracterizou-se por ser obra bordada, diferente da tapeçaria européia, sempre tecida manualmente nos teares de alto e baixo liço.


Usando a temática brasileira estilizada, com cores muito vivas, abusando das formas contidas em contornos negros sobre fundos com predominância das cores primárias - amarelos, vermelhos, e azuis - as Tapeçarias de Genaro alcançaram grande sucesso, nacional e internacionalmente. O artista empregou outras técnicas na execução de sua obra têxtil, como a Colagem, a montagem, e a tecelagem, na técnica européia conhecida como Gobelin; no entanto, ocorreu o predomínio da técnica de bordado na sua obra têxtil. Duas obras de Genaro a primeira (sem título, s/d), e a segunda, pertencente à coleção da antiga revista Manchete, se encontram reproduzidas (ANDRADE, 1978).

REFERÊNCIA SELECIONADA:
 
 
ANDRADE, Geraldo Edson de. Aspectos da Tapeçaria Brasileira. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1978, pp. 04, 72, 132-133.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

BIOGRAFIA: AZEVEDO, Gilda Azeredo (1924-1984).

A artista nasceu e faleceu no Rio de Janeiro; Azevedo estudou pintura com Tomás Santa Rosa e frequentou com Domingos Lazzarini e Aluisio Carvão os cursos do MAM (Rio de Janeiro). Da Abstração na pintura, a artista passou à Abstração na Arte Têxtil, na tapeçaria bordada na qual traduziu em técnicas criativas sua linguagem sobre tela, produzida com leves relevos. Azevedo optou sempre por obras em dimensões nobres, conforme demanda essa arte, que torna-se mais expressiva quando se mostra em grandes murais.

Azevedo apresentou suas obras em inúmeras mostras individuais, como na Galeria Montmartre (1965), na Galeria Giro (1966), na L'Atelier (1967); na Livraria Agir, todas no Rio de Janeiro e na Galeria La Tangara (Buenos Aires, 1968). Azevedo expôs suas obras têxteis na Galeria Debret (Paris) e na Galeria Residência e na Galeria Baú (São Paulo, 1969) e no Clube Terrasse (Rio de Janeiro, 1970); na Galeria de Arte do Hotel Copacabana Palace (1971); na Embaixada do Brasil (Londres, 1972); na Galeria Oscar Seraphico (Brasília, 1975); na Galeria Bonino (Rio de Janeiro) e na Galeria Florimont (Lausanne, Suíçca, 1978; 1981); na Galeria Anna Maria Niemeyer, (Rio de Janeiro, 1982).

Obras de Gilda Azevedo participaram das mostras coletivas do X SNAM (Rio de Janeiro, 1961); do 1º Salão de Arte Moderna (Brasília, DF) e da VIII Bienal de São Paulo (1965); do XXI Salão Municipal de Belas Artes (Belo Horizonte, 1966); da mostra Dez Pintores Brasileiros Modernos, organizada pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil, itinerante por vários países (1967); do II SNAP (Vitória, ES, 1968); da mostra Três Aspectos da Pintura Contemporânea Brasileira, também promovida pelo Ministério das Relações Exteriores, que percorreu países da América do Latina (1968); da I Mostra da Tapeçaria Brasileira, realizada no Museu de Arte Brasileira, na FAAP – Faculdade Armando Álvares Penteado (São Paulo, 1974); do 1º Encontro da Tapeçaria Uruguaia-Brasileira, (Montevidéu, 1975); da I, II e III Trienal de Tapeçaria, no MAM, (São Paulo, 1976; 1979; 1982); do I Encontro da Tapeçaria Uruguaia - Argentina - Brasileira (Buenos Aires, 1977).

Azevedo foi homenageada pelos artistas que publicaram sua fotografia com belo sorriso, no catálogo da importante mostra nacional Evento Têxtil 85, realizada no MARGS (Porto Alegre, 1985), com texto assinado por Frederico de Morais e palavras elogiosas sobre a obra destacada da artista.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

AYALA, W.: SEFFRIN, A. Dicionário de Pintores Brasileiros. Curitiba: UFFR - Universidade Federal do Paraná, 1997. 2ª ed., ver., ampl., 428p. : il., color., p. 37.

CATÁLOGO. Exposição Nacional de Arte Têxtil/ 1985. Porto Alegre: MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1985.

CATÁLOGO. II Trienal de Tapeçaria. São Paulo: MAM - Museu de Arte Moderna, mar. – abr., 1979.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

III. ARTE DA FiIBRA.


III. ARTE DA FIBRA [FIBERART].

 
DEFINIÇÃO.

O nome Arte da Fibra classifica todas as obras têxteis resultantes da pesquisa pessoal de um artista, produzidas manualmente utilizando técnicas têxteis nas mais variadas formas, com qualquer tipo de superfície e com muitos tipos de materiais têxteis, entre outros materiais não têxteis, podendo resultar da mistura de vários tipos de materiais e de vários tipos de técnicas oriundas das tradicionais ou não, ao utilizar novas técnicas inventadas, produzidas por um artista plástico.


HISTÓRICO:

Desde meados da década de 1970 ocorreram as primeiras mostras nacionais da Cultura da Fibra: na I Mostra Brasileira de Tapeçaria, duas de minhas obras bordadas foram selecionadas e participaram da exposição nacional, realizada no Museu de Arte Brasileira - FAAP, que publicou catálogo ilustrado (São Paulo, 1974). A segunda mostra nacional importante foi a I Trienal de Tapeçaria, realizada no MAM, que premiou obra de Jacques Douchez, desde então referência na Arte da Fibra brasileira. A II Trienal de Tapeçaria, ocorreu no final da década, no MAM (São Paulo,1979); o premiado foi Cerzo, artista que sempre trabalhou com técnicas experimentais.

Quando me deparei e fotografei a obra de Jagoda Buic, na XV Bienal (1979), a minha reação foi:

- O que é isso, como é que se faz isso …

Essa é normalmente a reação de leigos ante a maioria das obras da Cultura da Fibra. Desconhecemos completamente o tipo de trabalho envolvido, desconhecemos a nomenclatura, desconhecemos quase tudo sobre a Arte da Fibra. Na mesma Bienal tive a oportunidade de ver e fotografar a obra de Berenice Gorini, elaborada com técnica e material diverso, tramada com fibras vegetais naturais de Santa Catarina, suas Vestes Rituais (320 cm x 140 cm x 40 cm, cada peça. Instalação com três elementos similares. São Paulo, 1979).


Formada na tradição brasileira das moças de fino trato, eu bordava tapeçarias profissionalmente desde 1972, tendo realizado a minha primeira mostra individual na Oca (Ipanema, Rio de Janeiro, 1973). O desenho era sempre executado a mão livre sobre tela, e marcada cada linha a ser bordada com fios industrializados, de lã ou outros, e, em seguida, levado para a bordadeira executar, sempre uma única bordadeira. A elaboração da tapeçaria era acompanhada nas visitas semanais, esclarecendo dúvidas e, raramente, modificando a obra bordada. Todo o material para cada tapeçaria era separado no momento do desenho: somente a cor do fundo era decidida depois de completado o bordado de todo o desenho.


Minha mãe me ensinou a bordar sobre tela quando eu tinha 7 anos de idade: filha de português e neta de francês, ela não gostava de ver ninguém sem fazer nada, sem aprender nada. Assim, todos os períodos de férias, eu e minha irmã tínhamos que realizar algum trabalho manual: tornei-me exímia tricoteira e minha irmã exímia crocheteira. Adolescente, teci manualmente cinco vestidos e um sem número de blusas de lã. Depois pintei cerâmica nas técnicas de alto e baixo esmalte, mas precisei parar porque fiquei alérgica as tintas utilizadas. Na minha casa, minha mãe costurava e bordava divinamente: a atividade era-lhe prazerosa. Hoje sei que ela era talentosa estilista, de quem tive o prazer de vestir criações exclusivas, inesquecíveis. Por sua vez, ela aprendeu a costurar com a minha tia, Ely Luz, estilista profissional, que também atuou como executora das obras de alta costura de grandes nomes nacionais: ela executou várias das coleçôes da fase de maior sucesso de Guilherme Guimarâes, com direito a fotografias reproduzidas na revista de grande circulação, O Cruzeiro (Rio de Janeiro). Assisti, no ateliê ao desfile de Maria Stela Splendore, modelo da luxuosa coleção de Alta Costura do mais conhecido estilista da sociedade paulista, Dener, produzidos pela minha tia, braço direito dele (1963).

Como outras artistas da Cultura da Fibra, realizei a minha pesquisa pessoal de texturas na forma livre: a principal foi desenvolvida em conjunto com a artista holandesa, minha amiga Karen Viegler, quando ambas vivíamos no Rio de Janeiro. Durante três meses dividimos os materiais colocados misturados em um grande cesto e deixamos fluir a técnica, e as texturas que inventávamos na hora. Tecemos essa obra em conjunto, no meu ateliê, cujas paredes forrei de madeira para possibilitar a construção de minhas primeiras formas livres: eu e Karen pregamos pregos na madeira e assim construímos nossa forma livre, nesse tear improvisado. Viegler, que estudou em Londres no Goldsmith College, tinha muito mais experiência do que eu com texturas, e aprendi muito com ela. A obra resultante foi verdadeiramente experimental, pesquisa de técnicas e materiais: creio que foi a minha verdadeira pós-graduação nas texturas da Arte da Fibra.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

VI OBRAS BORDADAS DE OUTROS ARTISTAS: GILDA AZEVEDO E BIA VASCONCELLOS.

VI OBRAS BORDADAS DE OUTROS ARTISTAS: GILDA AZEVEDO E BIA VASCONCELLOS.


Outra artista brasileira que bordou tapeçarias foi Gilda Azeredo de Azevedo (Rio de Janeiro, RJ, 1924-1984): ela bordou Abstrações Líricas na sua técnica pessoal de inédita complexidade e originalidade, que, muitas vezes, aplicava relevos em crochê sobre o desenho de grande riqueza. A tapeçaria de Gilda se baseou na pintura de sua Abstração Lírica: a artista faleceu quando sua obra começava a se projetar internacionalmente, ainda sem o tempo necessário para desenvolver todo o seu imenso potencial na Arte da Fibra.

Bia Vasconcelos (Rio de Janeiro, RJ, 1946-), sempre bordou obras de Arte da Fibra: seu bordado diferenciado sobre talagarça ilustrava com relevos diversos vários pontos atrativos do desenho da artista, que sempre manteve na obra figurativa o toque especial de humor. A arte bordada de Vasconcelos mudou de formato e agregou novas técnicas, inventadas: continuou bordada, personalíssima, interessante e curiosa.

V. TAPEÇARIA BORDADA: OUTROS ARTISTAS.

V. TAPEÇARIA BORDADA: OUTROS ARTISTAS.


Outros artistas como Madeleine Colaço, a portuguesa que se tornou conhecida na Tapeçaria bordada brasileira, desenvolveu elaborada técnica pessoal que transmitiu a seus seguidores, sua filha Concessa Colaço e, seu neto, Tomás Colaço, todos com obras Figurativas.

Nora Correas (Argentina, 1942-) e Vivian Silva (Rio de Janeiro, 1945-), foram artistas que começaram suas carreiras bordando tapeçarias e participaram da Cultura da Fibra desde as primeiras mostras nacionais nos seus respectivos países. Na década de 1960 Correas passou temporada no Brasil, quando desenhou tapeçarias bordadas na mesma técnica empregada pela família Colaço: ela apresentou essas obras, ainda Figurativas  e estilizadas na sua mostra individual, realizada na Galeria Vernissage (Rio de Janeiro, 1969). Posteriormente Correas desenvolveu o universo abrangente das técnicas e materiais têxteis e se tornou uma das mais conceituadas, destacadas, homenageadas e premiadas artistas da moderna Cultura da Fibra argentina. Os citados, Correas e Silva, abandonaram o bordado, e adotaram e criaram novas técnicas, que permitiram o pleno exercício de sua criatividade e a conquista do espaço, o que a técnica de bordado nunca permitiu.

IV. TAPEÇARIA BORDADA: JEAN GILLON.

IV. TAPEÇARIA BORDADA: JEAN GILLON.

Outro artista multimídia que bordou Tapeçarias estilizadas foi Jean Gillon (Romênia, 1919 - São Paulo, 2007). O artista radicado em São Paulo foi desenhista, aquarelista, pintor, tapeceiro, designer de mobiliário, além de cenógrafo e figurinista de teatro e cinema. Gillon empregou mais de um tipo de técnica nas suas obras têxteis bordadas: o Petit-point ou Pontinho, na obra reproduzida; e a técnica de bordado conhecida como Tuffing, utilizada na Tapeçaria reproduzida depois.


Esse tipo de técnica permite alcançar relevo diferenciado nas suas diversas partes e emprega instrumento especial, conhecido como agulha mágica. Mágica, pois essa técnica permite muito maior rapidez na execução da obra têxtil do que todos os outros tipos de pontos bordados sobre tela, sem prejuízo da qualidade final da obra, que depende de somatória de elementos: do design da Tapeçaria, da escolha dos materiais, da adequação técnica e da qualidade da execução artesanal. E, mais que tudo, da arte de cada ser artista.

II. TAPEÇARIA BORDADA SOBRE TELA(S).

II. TAPEÇARIA BORDADA SOBRE TELA(S).


No Brasil a principal característica que marcou o início da Arte da Fibra foi o quase completo desconhecimento por parte da maioria dos artistas da principal técnica de tecelagem manual, e, especialmente, das técnicas européias do tear de alto e baixo liço. No caso da Tapeçaria artística brasileira fez com que no nosso país predominassem as técnicas de bordado sobre tela, tradição de nossos colonizadores. Os portugueses bordavam tapetes de chão, conhecidos como de Arraiolos, nome da vila portuguesa que deu origem a essa manufatura, existente até hoje.


Desde a década de 1950 as técnicas de bordado se sobrepuseram às outras técnicas têxteis e deram origem à Tapeçaria brasileira bordada sobre tela. A tela da Tapeçaria bordada costuma ser fina e delicada, e necessita de muitas horas de trabalho para alcançar o resultado final desejado pelo artista. São vários os tipos de tela que servem para bordarmos Tapeçarias: muitos artistas brasileiros e estrangeiros começaram suas carreiras bordando sobre tela ou tecido, como a expoente da Cultura da Fibra argentina, Nora Correas, e as brasileiras, Gilda Azeredo Azevedo, Ana Goldberger, Vivian Silva e Bia Vasconcellos, entre outros artistas destacados, como o romeno Jean Gillon. Todos os citados posteriormente desenvolveram obras com outras técnicas texteis, até mesmo o artista precusor da tapeçaria bordada brasileira, Genaro de Carvalho.

Na Tapeçaria bordada sobre tela são vários os tipos de pontos que podemos empregar sobre os vários tipos de tela: nas telas mais finas, o dito, petit-point (ponto pequeno), que preenche a tela na diagonal, minimizando os efeitos de torção da tela provocados por qualquer técnica de bordado sobre qualquer tipo de tecido ou tela. Outro tipo de ponto é o dito, meio-ponto coberto, que sempre empreguei nas minhas obras bordadas: um ponto longo cruza a tela, carreira a carreira, e, na volta, esse fio comprido vai sendo coberto com meio-ponto, realizado ponto a ponto, a cada linha horizontal. Esse ponto oferece a vantagem de cobrir a tela com camada intermediária de fios longos, posteriormente cobertos, que, além de minimizarem o efeito de torção na tela, não permitem que seja visulizado nenhum pedaço da tela, que fica inteiramente coberta. A torção sofrida pela tela depende inteiramente da escolha do material, de sua adequação em relação à estrutura da tela escolhida.


 
Depois de bordada, qualquer Tapeçaria necessita passar por  processo de acabamento, quando o material deverá voltar a sua forma original. A fixação dos fios, especialmente os de lã, se dará através do calor do vapor aplicado no avesso da obra bordada, sendo a tela protegida por tecido fino, molhado. Depois desse processo, a tela ainda sofrerá outro tipo de acabamento, que depende da escolha de cada artista. Nas telas bordadas o acabamento mais comum é executado colocando a tela bordada sobre anteparo, tipo lona grossa, em seguida rebordando toda a borda da obra com ponto largo, que forma a moldura para a Tapeçaria, que adquire maior resistencia no local em que a obra é mais frágil, nas bordas.


Toda obra têxtil necessita de uma mínima manutenção, voltada contra seus grandes inimigos: a poeira, a humidade e a luminosidade. Aconselhei aos colecionadores de minhas obras que as retirassem da parede mensalmente, de preferência parede com pouca luz, evitando mesmo a luz refletida nos espelhos e que passassem sobre as mesmas o aspirador de pó com a escova protegida por tecido fino, não tingido e de trama aberta. A cada cinco anos, que procurassem o conselho de especialista, do autor ou outrem, para saber com quem realizar limpeza especializada: que nunca enviassem a sua Tapeçaria para limpeza na tinturaria, é certo que a obra seria danificada. Quanto a outros tipos de obras têxteis, que procurasem o conselho dos especialistas, antes das experiências amadoras de conservação.

I.TAPEÇARIA: BREVE HISTÓRICO NO SÉCULO XX.


I. TAPEÇARIA: BREVE HISTÓRICO NO SÉCULO XX.



No século XX surgiram oportunidades para os artistas de vários países se dedicarem à Tapeçaria, quando o Museu Bellerive organizou a 1ª BIT - Bienal Internacional de Tapeçaria (Zurique, Suíça, 1962). As primeiras tapeçarias inscritas no certame aberto internacionalmente seguiram a orientação do seu organizador, o artista suíço Jean Lurçat. A orientação dele foi que as Tapeçarias aceitas fossem realizadas em dimensões nobres, no mínimo 10 m2, e seguissem par a par com a evolução da arquitetura moderna.


Na 1ª Bienal Internacional de Tapeçaria foram inscritos grandes painéis planos, geométricos, executados com fibras têxteis, geralmente a tradicional lã, desenhados por grandes arquitetos como Le Corbusier e confeccionados sob encomenda. Os artistas desenharam obras realizadas por tecelões nos conhecidos ateliês europeus de Aubusson, Gobelin, Tabard e Savonnerie, entre outros ainda em atividade. Essas obras, planas, de forma geométrica, produzidas segundo desenhos, fossem esses figurativos ou abstratos, tecidas na técnica tradicional dita, Gobelin, consideramos como inseridas na nomenclatura de Tapeçaria(s).

Nossa primeira reconhecida artista têxtil foi Regina Gomide Graz (1902-1973). A artista estudou arte têxtil indígena no Rio de Janeiro; ela voltou a São Paulo, onde passou à dedicar-se às ditas, Artes Decorativas, pintando painéis e criando desenhos de tapetes e tapeçarias tecidas, colchas e painéis, entre outras obras têxteis com as quais complementou projetos de decoração de seu marido, o pintor e arquiteto de interiores, John Graz. Obras têxteis de Regina participaram da decoração da famosa Casa Modernista, do arquiteto russo Gregori Warchavich, que chegou ao Brasil para revolucionar a arquitetura modernista, exterior e interior (São Paulo, abril, 1930-). R. Graz expôs obras no 1o Salão Paulista de Belas Artes (1934). As atividades de Regina Graz declinaram, a medida que declinou o poder aquisitivo da rica sociedade paulista, atingida em profundidade com a crise internacional do café, consequência da quebra da bolsa de Nova York (maio, 1929) e da severa recessão americana com profundos reflexos internacionais (1929-1945). Décadas mais tarde a artista foi visitada pelos artistas plásticos, expoentes da Cultura da Fibra, Jacques Douchez e Norberto Nicola, que receberam da pioneira grande estímulo na exploração das possibilidades das técnicas têxteis: os artistas se tornaram reconhecidos excepcionais talentos na Arte da Fibra brasileira.



REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


ANUÁRIO. Architecture, Formes et Fonctions (1962-1963). Lausanne: Anthony Kraft, 1962.

 
CONSTANTINE, M: LARSEN, J. L. Beyond Craft: The Art Fabric. New York, Cincinnati, London, Toronto, Melbourne: Van Nostrand Reinhold, 1973. 293p., il., some color.  26.5 x 35.5 cm.


CONSTANTINE, M.; LARSEN, J. L. The Art Fabric: Mainstream. New York, Cincinnati, London, Toronto, Melbourne: Van Nostrand Reinhold, 1979. 272p., il,  some color. 26.5 x 35.5 cm.


KUENZI, A.; BILLETER,E.;Kato, K. L. La Nouvelle Tapisserie. 3a ed., rev. e ampl. Paris - Lausanne: Biblioteque des Arts, 1981, some color, 26 x29 cm..

 
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Regina Gomide Graz: modernismo, arte têxtil e relações de gênero no Brasil. São Paulo: revista do IEB n 45, set 2007, pp. 87-106.


VERLET, P.; FLORISOME,M.;HOFFMEISTER, A.;TABARD, F.; LURÇAT, Jean. Le Grand Livre de la Tapisserie. Lausanne; Edita, 1965, 36 x 30 cm.

domingo, 13 de novembro de 2011

GRUPO (PAULISTA DO) ATELIÊ CASA 11 (São Paulo, 1984-1989).


GRUPO (PAULISTA DO) ATELIÊ CASA 11 (São Paulo, 1984-1989).


Marina Overmeer, artista com especialização avançada na Arte da Fibra, fundou, juntamente com Henrique Schucman, o Ateliê Casa 11 onde ambos ensinaram as técnicas artísticas do Tear de Alto Liço. Os ensinamentos foram baseados na dita, Amostra de Aroztegui, também conhecida como Faixa Têxtil, tecelagem manual que abordava todas as intrincadas minúcias das técnicas empregadas na tapeçaria clássica de tear de alto liço, popularmente conhecida como Gobelin. Durante alguns anos, o professor uruguaio Ernesto Aroztegui visitou São Paulo, exclusivamente para proferir esse curso para alguns destacados alunos.