Vivian Pinto Portela da Silva.

Vivian Pinto Portela da Silva.
Vivian Silva, diploma e fotografias, uma proferindo palestra em Congresso Internacional (Xalapa, México, 2011); em 2007; com o neto John Portela Grooms (novembro, 2013). Abaixo: Jornal da Tarde, (dezembro, 1966). Fotos com a família Wallace, proferindo palestra em High-School e como Jovem Embaixadora na, Universidade de Stanford (California, 1967).

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

III. ARTE DA FiIBRA.


III. ARTE DA FIBRA [FIBERART].

 
DEFINIÇÃO.

O nome Arte da Fibra classifica todas as obras têxteis resultantes da pesquisa pessoal de um artista, produzidas manualmente utilizando técnicas têxteis nas mais variadas formas, com qualquer tipo de superfície e com muitos tipos de materiais têxteis, entre outros materiais não têxteis, podendo resultar da mistura de vários tipos de materiais e de vários tipos de técnicas oriundas das tradicionais ou não, ao utilizar novas técnicas inventadas, produzidas por um artista plástico.


HISTÓRICO:

Desde meados da década de 1970 ocorreram as primeiras mostras nacionais da Cultura da Fibra: na I Mostra Brasileira de Tapeçaria, duas de minhas obras bordadas foram selecionadas e participaram da exposição nacional, realizada no Museu de Arte Brasileira - FAAP, que publicou catálogo ilustrado (São Paulo, 1974). A segunda mostra nacional importante foi a I Trienal de Tapeçaria, realizada no MAM, que premiou obra de Jacques Douchez, desde então referência na Arte da Fibra brasileira. A II Trienal de Tapeçaria, ocorreu no final da década, no MAM (São Paulo,1979); o premiado foi Cerzo, artista que sempre trabalhou com técnicas experimentais.

Quando me deparei e fotografei a obra de Jagoda Buic, na XV Bienal (1979), a minha reação foi:

- O que é isso, como é que se faz isso …

Essa é normalmente a reação de leigos ante a maioria das obras da Cultura da Fibra. Desconhecemos completamente o tipo de trabalho envolvido, desconhecemos a nomenclatura, desconhecemos quase tudo sobre a Arte da Fibra. Na mesma Bienal tive a oportunidade de ver e fotografar a obra de Berenice Gorini, elaborada com técnica e material diverso, tramada com fibras vegetais naturais de Santa Catarina, suas Vestes Rituais (320 cm x 140 cm x 40 cm, cada peça. Instalação com três elementos similares. São Paulo, 1979).


Formada na tradição brasileira das moças de fino trato, eu bordava tapeçarias profissionalmente desde 1972, tendo realizado a minha primeira mostra individual na Oca (Ipanema, Rio de Janeiro, 1973). O desenho era sempre executado a mão livre sobre tela, e marcada cada linha a ser bordada com fios industrializados, de lã ou outros, e, em seguida, levado para a bordadeira executar, sempre uma única bordadeira. A elaboração da tapeçaria era acompanhada nas visitas semanais, esclarecendo dúvidas e, raramente, modificando a obra bordada. Todo o material para cada tapeçaria era separado no momento do desenho: somente a cor do fundo era decidida depois de completado o bordado de todo o desenho.


Minha mãe me ensinou a bordar sobre tela quando eu tinha 7 anos de idade: filha de português e neta de francês, ela não gostava de ver ninguém sem fazer nada, sem aprender nada. Assim, todos os períodos de férias, eu e minha irmã tínhamos que realizar algum trabalho manual: tornei-me exímia tricoteira e minha irmã exímia crocheteira. Adolescente, teci manualmente cinco vestidos e um sem número de blusas de lã. Depois pintei cerâmica nas técnicas de alto e baixo esmalte, mas precisei parar porque fiquei alérgica as tintas utilizadas. Na minha casa, minha mãe costurava e bordava divinamente: a atividade era-lhe prazerosa. Hoje sei que ela era talentosa estilista, de quem tive o prazer de vestir criações exclusivas, inesquecíveis. Por sua vez, ela aprendeu a costurar com a minha tia, Ely Luz, estilista profissional, que também atuou como executora das obras de alta costura de grandes nomes nacionais: ela executou várias das coleçôes da fase de maior sucesso de Guilherme Guimarâes, com direito a fotografias reproduzidas na revista de grande circulação, O Cruzeiro (Rio de Janeiro). Assisti, no ateliê ao desfile de Maria Stela Splendore, modelo da luxuosa coleção de Alta Costura do mais conhecido estilista da sociedade paulista, Dener, produzidos pela minha tia, braço direito dele (1963).

Como outras artistas da Cultura da Fibra, realizei a minha pesquisa pessoal de texturas na forma livre: a principal foi desenvolvida em conjunto com a artista holandesa, minha amiga Karen Viegler, quando ambas vivíamos no Rio de Janeiro. Durante três meses dividimos os materiais colocados misturados em um grande cesto e deixamos fluir a técnica, e as texturas que inventávamos na hora. Tecemos essa obra em conjunto, no meu ateliê, cujas paredes forrei de madeira para possibilitar a construção de minhas primeiras formas livres: eu e Karen pregamos pregos na madeira e assim construímos nossa forma livre, nesse tear improvisado. Viegler, que estudou em Londres no Goldsmith College, tinha muito mais experiência do que eu com texturas, e aprendi muito com ela. A obra resultante foi verdadeiramente experimental, pesquisa de técnicas e materiais: creio que foi a minha verdadeira pós-graduação nas texturas da Arte da Fibra.

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